segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Poema erótico de Carlos Drummond de Andrade.

Amor, pois que é palavra essencial

Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.


Carlos Drummond de Andrade

Meu poeta predileto.. não poderia faltar.

Amar
1960 - ANTOLOGIA POÉTICA


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar,desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

Lindo poema de Fernando Pessoa, vale à pena ler..

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Poema De Saviv - Trecho da Obra Crõnicas De Qédem

Este poema recebi de um amigo, achei interessante e resolvi postar, já que nos últimos dias não tenho escrito!

“Quero-te flexível, adequado: Um adivinho do meu fluxo sangüíneo, conhecedor inconteste das respostas que procuro, guia e mestre, sabedor do que em mim espinha e machuca e, principalmente, hábil na defesa do que em mim possa feri-lo, resplandecente da luz que definirá os meus contornos íntimos tão completamente que segredo algum possa camuflar-se entre gestos ou palavras no desejo de ocultar-se. Mas alguém, no torpor do sono o corpo presente e firme, ao menos desejo de evocar-se possas tu contê-lo. O erro nos faz perder tempo e o equívoco é sempre frustrante.

Quero-te flexível e adequado: Um adivinho do que fui, do que sou do que dificilmente serei.

O longo caminho na tentativa de acertos nos torna ansiosos e ativa nossas esperanças. E a esperança ativa uma mola propulsora e incontrolável. Torna os nervos relaxados, fixa o olhar no ponto e mantém o pensamento ocupado num único objetivo, no planejamento o que também pode resultar estéril.

A atenção mantida em um único foco, que não permite pensar que algo ou alguém se movimenta no teu campo de visão, pois poderá distrair-nos.

Quero-te flexível e adequado ao meu ritmo e calor interno: A mão que pousa em minha alma e melhor do que eu sabe contê-la.

Que sabe dominá-la sem que unhas retráteis necessitem intimidá-la para que isso aconteça. O sentimento corajoso e sem reservas, consciente do que desejou sereno, íntegro, fiel em desejos e atitudes.

Ah! Quero-te belo e jovem, recém nascido de obra renascentista do pintor galáctico, a figura mitológica estelar cujo percurso iniciado quando também eu reinicio a marcha, agarrado aos meus flancos, a compartilhar comigo o medo da perda.

Mas quero-te também um sábio maduro e forte, um senhor das minhas guerras improváveis, um consolador das minhas derrotas, um conselheiro com poderes inesperados, um mágico com truques plausíveis, criativos e preciosos às charadas das que invento ser eu mesma. Dama de ferro esculpida em porcelana acadiana.

Enfim, quero-te um homem-anjo. Asas e instintos acoplados, perfeito, imortal que és para me devolver à vida quando dela me retirar”.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Um lindo poema....

Estava a passear pela internet e encontrei este poema, carregadinho de emoções, de autor desconhecido, na página de uma amiga....

Nunca te vi,
Não conheço o teu corpo,
Mas eu te sinto
Mesmo que estejas longe.
Não me olhei ainda
Na luz dos teus olhos
E nem provei
O gosto da tua boca.
Mas eu te quero,
Mesmo sabendo
Que nunca te terei.
Não experimentei o teu toque
E nem sequer te acariciei,
Mas sinto o teu perfume no ar.
Sucumbi à tua sedução,
Mesmo sabendo
Que nunca te encontrarei.
Nosso amor é só virtual,
Mas não faz mal,
Pois alma é mais do que corpo.
E, se não te tenho ao meu lado,
Que o vento sussurre para ti
Minhas palavras de carinho.
Quero também que ele diga
Que alguém te ama
Do jeito que mais sabe,
Com tudo o que é capaz.
E se pensares no amor,
E em tudo o que ele traz,
De felicidade, na vida,
Ora, isso não é nada,
Pois te amo muito mais!
Alma é mais do que corpo.
E minha alma seguirá
Sempre amando a tua,
Mesmo que nossos corpos
Nunca possam se encontrar.
Mas chegará o momento,
Por alma ser mais que corpo,
Que seremos só uma alma,
Um coração
E um só pensamento!